Professor do Técnico coordena análise dos efeitos da inteligência artificial e automação nos empregos portugueses

Rui Baptista é investigador no Centro de Estudos em Gestão do Técnico (CEGIST) e liderou equipa que produziu estudo para a Fundação Francisco Manuel dos Santos.

“A difusão do uso da inteligência artificial (IA) deverá provocar mudanças significativas no mercado de trabalho” – esta é uma das principais conclusões de um estudo avançado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, que teve como coordenador Rui Baptista, professor catedrático do Instituto Superior Técnico e investigador no Centro de Estudos em Gestão do Técnico (CEGIST). A equipa contou ainda com Hugo Castro Silva e António Sérgio Ribeiro, também docentes do Técnico e investigadores do CEGIST, e com Pablo Casa-Aljama, economista no Joint Research Centre da Comissão Europeia e anteriormente professor auxiliar convidado do Técnico e investigador pós-doutoral do CEGIST.

Publicado a 4 de abril, o documento intitulado “Automação e inteligência artificial no mercado de trabalho português: desafios e oportunidades” divide as ocupações profissionais do país em quatro campos, em função da sua exposição a efeitos transformativos da IA e da sua exposição a efeitos destrutivos da automação de tarefas.

As “profissões em ascensão”, com alta exposição a efeitos transformativos da IA e baixa exposição a efeitos destrutivos da automação, representam 22,5% do emprego, tratando-se das mais promissoras para o futuro, de elevado valor acrescentado e essenciais para alavancar o crescimento económico. São exemplo destas profissões, segundo o estudo, gestores de empresas, professores, especialistas de marketing, médicos e outros profissionais de saúde.

No extremo oposto do espetro, as “profissões em colapso” mostram-se altamente vulneráveis à automação e com pouco potencial de transformação pela IA. Este conjunto de ocupações arrecada 28,8% do mercado de trabalho nacional e, em média, os trabalhadores deste ramo auferem rendimentos mais baixos e têm poucas qualificações, podendo enfrentar uma situação mais precária em caso de desemprego, segundo o estudo. O estudo dá como exemplos os vendedores ao domicílio, empregados de mesa, cozinheiros e agricultores não qualificados, entre outros.

12,9% dos empregos inserem-se no “terreno das máquinas”, onde a automação dominará a execução de tarefas, auxiliada por um grande poder transformador da IA. A maior fração corresponde ao “terreno dos humanos”, cotado em 35,7%, que se caracteriza por baixa exposição tanto à automação como aos efeitos transformativos da IA.

Em termos geográficos, a análise apontou contrastes – Lisboa, Coimbra, Porto e Vila Real são os distritos que apresentam o maior rácio de trabalhadores em “profissões em ascensão”, enquanto que alguns distritos do Norte do país (Viana do Castelo, Braga, Aveiro, Viseu) apresentam mais de 40% do emprego nas “profissões em colapso”, exposta aos efeitos destrutivos da digitalização.

Os autores do estudo defendem que “os decisores políticos devem procurar soluções que favoreçam a adoção das tecnologias por parte das empresas, enquanto criam mecanismos de proteção, requalificação e mobilidade profissional dos trabalhadores mais vulneráveis”.

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